Importância do lúdico na saúde
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Escrito por Prof.ª Drª.Sonia Maria Vilela Bueno e Larissa A. da S. Philbert
Quem já passou por algum tipo de internação, sabe o quanto é difícil esse momento. Então imagine como é para uma criança que está na fase das descobertas e, da fantasia. Ficar internada e precisar ficar afastada de suas atividades normais e da sua própria realidade, é muito complexo. Imaginou?
O ambiente hospitalar é caracterizado e estereotipado por ser frio, onde há dor e sofrimento mesclados com alguns momentos de alegria, principalmente quando alguém tem alta do hospital ou recebe a notícia da cura de sua enfermidade.
A interrupção das atividades cotidianas, mediante uma doença, indica que a hospitalização pode afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional, psíquico, social, físico e espiritual, com isso podendo causar prejuízos tanto na qualidade de vida quanto no processo de recuperação.
Por isso, é importante que qualquer intervenção no ambiente hospitalar tenha cuidado com as particularidades do indivíduo em tratamento e com sua família, buscando incentivar a saúde e considerando os aspectos psicológicos, pedagógicos e sociológicos de todos os envolvidos.
Um excelente recurso e estratégia para o enfrentamento dessa situação estressante e adversa que é a hospitalização, é o lúdico, com apoio de brinquedos, jogos e histórias.
O lúdico pode ser considerado um catalisador de qualquer adversidade, inclusive as relacionadas ao período de hospitalização, porque auxilia o processo de adaptação da criança a essa nova realidade e das futuras transformações. Os brinquedos, jogos e histórias como suporte do lúdico, aumentam a resiliência da criança e conseqüentemente de todos os envolvidos.
Através do mundo lúdico, a criança se solta. Deixa imaginação e os sentimentos livres conseguindo expressar suas experiências positivas e negativas que a angustiam e dessa maneira, fortalece sua auto-estima e seu processo de recuperação, concomitante ao tratamento médico. O lúdico proporciona a resignificação e reequilíbrio do mundo da criança.
A ludicidade é essencial à vida, porque auxilia na revelação dos sentimentos e pensamentos através das expressões corporais, gestos e fala. Os brinquedos e jogos saciam a gana da criança de conhecer e reinventar a realidade para que a torne mais confortável em seu processo de internação.
O brincar estimula e contribui para o desenvolvimento da atenção, concentração, socialização criatividade, expressão corporal e oral, raciocínio lógico, curiosidade, iniciativa, pensamento, criticidade, competitividade, auto-expressão, auto-realização, autoconfiança, coordenação, destreza, força, rapidez, motivação, ordenação temporal e espacial, formação de atitudes sociais como respeito mútuo, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade e justiça, incitativa individual e grupal, flexibilidade, auto-estima e solidariedade, entre outros.
É no brincar que a criança interioriza o mundo que a cerca, e na troca com outros sujeitos se constitui como pessoa através da assimilação da realidade.
Portanto, brinquedos e jogos têm dupla função, a de consolidar os esquemas já formados e proporcionar prazer e equilíbrio emocional à criança, porque o ato de brincar e jogar educa e faz parte da vida.
É importante ressaltar que o brinquedo não possui, somente, uma dimensão subjetiva. Possui também uma dimensão social arraigada de valores sociais, políticos, morais e culturais variantes, de acordo com as referências que orientam e determinam um grupo.
O brinquedo não beneficia somente a quem está internado no hospital, mas a todos os envolvidos, principalmente, os familiares exercendo um efeito terapêutico, porque deslocam por algum tempo, o foco do seu pensamento para algo além da doença. O brincar no ambiente hospitalar entre pais, filhos e amigos privilegia a integração e a resiliência familiar.
Utilizando o lúdico como estratégia, é possível desmistificar a imagem do hospital como um espaço solitário para um espaço mais humanizado e de integração, onde haja vida, alegria, solidariedade humana e encontros entre as pessoas que proporcionem troca de experiências.
Para que se tenha este ambiente, é essencial que se conheça a realidade dos sujeitos envolvidos e que se certifique de que o brinquedo solicitado pela criança, seja adequado à sua idade ou a fase de desenvolvimento, aos seus traços pessoais e interesses, para que seu envolvimento na brincadeira, seja proveitoso e prazeroso. Os brinquedos proporcionam experiências diferentes e criam oportunidades para que o desenvolvimento físico, intelectual, afetivo, espiritual, social, cultural e a criatividade da criança ocorram de maneira integrada.
Por isso, o uso do brinquedo tem que ser feito com muito cuidado e critério, de acordo com objetivo traçado e com a realidade da criança que irá brincar. O brinquedo pode ser dirigido ou pode ser livre e em ambos os casos, ele pode caracterizar-se como estratégia de enfrentamento adequada à hospitalização tendo um efeito terapêutico e educativo na promoção do bem-estar da criança.
Os brinquedos são as ferramentas que contribuem para que a criança (re)construa seu próprio mundo. Quando as crianças têm oportunidade de brincar, individualmente ou em grupo, compreendem que o mundo está cheio de possibilidades e que os brinquedos simbolizam as oportunidades de expansão no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. O grau de avanço varia de criança para criança, mas quando é estimulada a brincar, o progresso é percebido. Através dos brinquedos a criança se familiariza com a tecnologia complexa que encontrará na idade adulta.
Portanto, podemos entender o brinquedo como mais um recurso educativo e de tratamento no hospital com o objetivo de promover o bem estar e a qualidade de vida. Assim sendo, o lúdico nos mostra que em alguns momentos da vida é necessário sentir, viver e participar de processos de transformação, segundo Winnicott, é no brincar, somente no brincar, que criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral. No caso do ambiente hospitalar e das vidas que nele estão inseridas devemos buscar todo tipo de recurso para tornar a vida mais bela, mais humana e mais feliz. Enfim, o lúdico faz-se necessário em qualquer ambiente onde exista indivíduo em situação de crescimento, desenvolvimento e, sobretudo, de aprendizagem.